terça-feira, 1 de março de 2011

O Pavão



Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de
suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri
que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há
pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se
fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o
máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz
ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada;
de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim
existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me
cobre de glórias e me faz magnífico.


(Rubem Braga, Ai de ti, Copacabana)

Nenhum comentário: